05/Dez | 20h | Auditório do Ciretran

Recital de Piano

O núcleo de Piano da Fames recebe:

Gabriel França

Programa:

• Schumann: Novellette Op. 21 N° 8
• Scriabin: Sonata para Piano N° 2 Op. 18 “Sonata-Fantasia”

1. Andante
2. Presto

• Prokofiev: Sonata para Piano N° 8 Op. 84

1. Andante dolce – Allegro moderato
2. Andante sognando
3. III. Vivace

As Novellettes de Robert Schumann correspondem a um ciclo de oito peças altamente características de seu estilo composicional, tendo recebido seu nome como dedicatória à cantora Clara Novello (segundo ele, devido à sonoridade de seu sobrenome e ao fato de ser homônima de sua esposa). Cada peça do ciclo contém suas próprias ideias, sem necessariamente compartilharem um tema musical – contudo, o bom conhecedor das obras de Schumann reconhecerá ecos delas entre o material exposto. A N° 8 é a Novellette mais longa, composta de duas grandes e contrastantes seções, notavelmente incorporando material melódico pertencente a Clara, em uma espécie de evocação de etérea textura musical, sendo elaborada em diferentes texturas orquestrais em seguida. A peça começa em Fá sustenido menor, mas se encerra no tom de Ré maior, o tom mais representado neste ciclo.

A Sonata-Fantasia de Aleksandr Scriabin é uma de suas peças mais celebradas, possuindo uma concepção estrutural consideravelmente livre, desde o número e andamento de seus movimentos até seu conteúdo musical em si. O movimento Andante, apesar de evidenciar uma moldura correspondente à forma sonata, exibe também modulações e escolhas harmônicas curiosas – como resguardar a considerada “tonalidade principal” da peça, Sol sustenido menor, para a enunciação de uma introdução que apresenta a unidade temática principal, mas privilegiar o tratamento temático de seções em Si e Mi maior, esta última inclusive encerrando o movimento. A polifonia e as texturas musicais utilizadas no primeiro movimento podem remeter à imagem do mar na orla de uma praia, imagem esta expandida pelo Presto, que assume um caráter extremamente tempestuoso em um movimento de moto perpétuo com grande uso de crescendos e diminuendos, evocando a cena de um mar bravio. Um segundo tema, mais lírico, porém não menos intenso, alterna com o tema inicial, conduzindo a um clímax orquestral e, por fim, uma elaborada coda, responsável pela resolução da grande energia que Scriabin manifesta aqui.

A Sonata n° 8 de Prokofiev, última de suas conhecidas três Sonatas da Guerra, foi finalizada em 1944. Ela até possui um eixo central em Si bemol maior (Ré bemol maior para o 2° movimento), mas o estilo de Prokofiev não é particularmente favorável à estabilidade tonal. O primeiro movimento, oscilando entre diversos andamentos e centros tonais, é quase um exemplo das novas possibilidades da sonata moderna para piano, justapondo andamentos variados, harmonias que vão do suave ao extremamente denso, e motivos rítmicos tanto enigmáticos como marciais. O Andante sognando é quase um parêntese nesta grande e densa obra, mostrando elaborações harmônicas e texturais diversas de um tema cantabile que não guarda relação com as demais ideias da peça. Curiosos trechos com justaposição assimétrica de acompanhamento e melodia no baixo aproximam o movimento de um rondó, embora seja difícil classificá-lo quanto à forma. Como um triunfal finale, o Vivace magnificará a inventividade temático-harmônica exibida no primeiro movimento, expondo um tema recorrente em arpejos alternados, um marcante tema cromático em oitavas, uma grande marcha em staccato com peculiares sforzandi, uma passagem estendida reminiscente do fervor e dos horrores de um campo de guerra, e uma fenomenal coda com farto material novo, passagens virtuosísticas em diversos registros que conduzirão a peça a um estrondoso final, marca registrada do compositor.

Gabriel França de Oliveira nasceu em 1995 na cidade do Rio de Janeiro. Começou relativamente tarde seus estudos, mas sob a mentoria de sua professora, a pianista Linda Bustani, ingressou em 2014 no curso de Bacharelado em Piano na UniRio, tendo aulas com o Prof. Cláudio Dauelsberg. Enquanto desenvolvia seus estudos na universidade, por ocasião do Festival Brasil-Alemanha organizado pela mesma teve a oportunidade de conhecer o ensino de música num padrão internacional, o que o motivou a se dirigir para a cidade de Karlsruhe, onde pôde eventualmente realizar seu curso de Mestrado em Piano pela Universidade de Música local. Após retornar do exterior, retomou seus estudos, buscando aperfeiçoar-se como artista em pequenos recitais esporádicos, enquanto dedica parte do tempo a dar aulas de piano pela Academia de Música Cartaxo e no ensino particular.